Nessa Arqueologia, Em Busca Da Ave-palavra Te Convido A Aguçar Os Sentidos, A Deixar Fluir As Incertezas, A Remover As Pedras Que Teimam Em Impedir O Voo ( ) Nessa Arqueologia, Te Convido A Me Dar As Mãos Os Olhos Os Ouvidos E A Entrar Comigo Na Caverna, Silenciosamente, Até Que Ouçamos O Pio Da Ave, A Voz, O Chamado Tão Logo Adentrei O Universo Poético De Helena Arruda, Desde Seu Primeiro Livro, Deparei-me Com Esse Chamado, Um Convite Irrecusável. Assim É Helena Quando Decide Abrir Todas As Fronteiras, Arrombar As Portas, Arrebentar As Cercas, Escancarar As Janelas, Mergulhar Em Alto Mar, Subir Montanhas Íngremes E Escorregadias, Voar, Ou, Simplesmente, Ficar. Se Antes Ela Buscava Sua Flor No Abismo , Passa Agora A Buscar Incessantemente A Ave Rara . Para Isso, Ela Escava, Arqueologicamente, Os Porões Do Pensamento Numa Procura Pujante, Pois Se No Princípio Era O Verbo, A Poeta Brinca Com Cronos E Se Antecipa A Ele Com Imagens Impactantes, Belíssimas, Como A Mulher De Dedos Longos Que A Acompanha Não Só Nas Montanhas, Mas Nas Águas Dos Rios, Nos Oceanos, Nos Campos Estrangeiros, Nas Esquinas Das Metrópoles, Nas Ruas, Na Vida E, Talvez, Na Morte. É Ela Quem Lhe Diz A Hora De Retornar E De Retomar A Poesia, É Ela Quem Abraça A Poeta Quando O Cansaço É Insuportável, Quando As Dores Vêm, É Ela Quem Lhe Aponta Os Caminhos E As Curas. Mas A Poeta Novamente Se Antecipa E Confessa Que Um Dia Esse Retorno Será Impossível. É Nessa Linha Tênue Que Tudo Acontece, Nesse Zênite Que Lhe Recobre A Cabeça, O Corpo, Os Olhos, Os Ouvidos, A Pele, As Veias, As Linhas Fronteiriças Entre O Ocidente E O Oriente, Entre Os Trópicos De Câncer E De Capricórnio, Entre A Imaginação E A Alma. Por Meio De Uma Costura Ordenada A Poeta Mantém Uma Linha Temporal De Acontecimentos Sobre O Nascimento Da Poética , E Uma Melodia Ritmada, Com Muitas Vozes Sobrepostas, Helena Traz À Tona Temas Necessários, Recorrentes Em Sua Poesia, Colocando No Centro A Figura Da Mulher, Sem, No Entanto, Desligar-se Do Seu Objeto Principal: A Palavra-corpo, A Palavra-cicatriz, A Palavra-mundo, A Ave Rara Que Sai Da Sua Boca E Das Bocas De Suas Predecessoras E De Suas Contemporâneas. Helena Arruda, Com Sua Voz Única, Vem Imprimindo Marcas Indeléveis À Poesia Brasileira Contemporânea. Desde Sua Poesia Política À Sua Poesia Mais Intimista, A Poeta Finca Os Pés, Solta A Voz, Liberta Corpos Aprisionados, Voa Alto, E, Por Fim, Pousa Serena Em Meio Às Vozes Mais Potentes Dessa Geração De Poetas. Marta A. Chaves