As Acadêmicas Feministas Desenvolveram Um Esquema Interpretativo Que Lança Bastante Luz Sobre Duas Questões Históricas Muito Importantes: Como Explicar A Execução De Centenas De Milhares De “bruxas” No Começo Da Era Moderna, E Por Que O Surgimento Do Capitalismo Coincide Com Essa Guerra Contra As Mulheres. Segundo Esse Esquema, A Caça Às Bruxas Buscou Destruir O Controle Que As Mulheres Haviam Exercido Sobre Sua Própria Função Reprodutiva, E Preparou O Terreno Para O Desenvolvimento De Um Regime Patriarcal Mais Opressor. Essa Interpretação Também Defende Que A Caça Às Bruxas Tinha Raízes Nas Transformações Sociais Que Acompanharam O Surgimento Do Capitalismo. No Entanto, As Circunstâncias Históricas Específicas Em Que A Perseguição Às Bruxas Se Desenvolveu — E As Razões Pelas Quais O Surgimento Do Capitalismo Exigiu Um Ataque Genocida Contra As Mulheres — Ainda Não Tinham Sido Investigadas. Essa É A Tarefa Que Empreendo Em Calibã E A Bruxa, Começando Pela Análise Da Caça Às Bruxas No Contexto Das Crises Demográfica E Econômica Europeias Dos Séculos Xvi E Xvii E Das Políticas De Terra E Trabalho Da Época Mercantilista. Meu Esforço Aqui É Apenas Um Esboço Da Pesquisa Que Seria Necessária Para Esclarecer As Conexões Mencionadas E, Especialmente, A Relação Entre A Caça Às Bruxas E O Desenvolvimento Contemporâneo De Uma Nova Divisão Sexual Do Trabalho Que Confinou As Mulheres Ao Trabalho Reprodutivo. No Entanto, Convém Demonstrar Que A Perseguição Às Bruxas — Assim Como O Tráfico De Escravos E Os Cercamentos — Constituiu Um Aspecto Central Da Acumulação E Da Formação Do Proletariado Moderno, Tanto Na Europa Como No Novo Mundo.
— Silvia Federici