Seguindo As Pistas Encontradas Em Variada Documentação, O Livro Traça A Biografia De Um Africano Liberto Que Circula Na Bahia Do Século Xix E Examina Seus Múltiplos Papéis Ao Longo Da Vida: Escravo, Adivinho, Feiticeiro , Chefe De Junta De Alforria E Senhor. O Perfil De Domingos Sodré Vem Se Somar A Outros Estudos Biográficos De Indivíduos Que Experimentaram A Escravidão E Depois Conseguiram Superá-la, Como Rosa Egipcíaca, Chica Da Silva, Caetana, Liberata Etc. Retirados Do Anonimato, Esses Trajetos Individuais Permitem Nova Compreensão Da Sociedade Brasileira Oitocentista, Crivada Por Tensões Entre Camadas Sociais E Códigos Culturais Distintos. Reinventando Valores E Práticas, Africanos Natos Como Domingos Funcionam Como Mediadores Culturais No Brasil Escravista: Circulam Entre O Candomblé E O Catolicismo, A Medicina Africana E A Ocidental, A Justiça Dos Pretos E A Dos Brancos. A Condição De Feiticeiro E Adivinho Confere A Domingos Lugar Social Particular. Se, Por Um Lado, É Perseguido Em Razão De Práticas Mágicas Consideradas Perigosas, Por Outro, A Posição De Líder Religioso Permite-lhe Barganhar Algum Espaço No Mundo Dos Brancos. Tomando A Trajetória De Domingos Como Fio Condutor, E Cotejando-a Com Outros Perfis E Experiências, O Livro Traça Um Mapa Complexo Das Relações Sociais Do Brasil Do Século Xix, Em Que Violência, Perseguição Policial E Desqualificação Social De Escravos E Libertos Combinam-se Com Compadrios E Protecionismos De Todo O Tipo. Alianças Perversas Que, Longe De Contribuírem Para Diminuir Distâncias Sociais, Reforçam-nas.