Quando Leio Um Livro De Poemas, Geralmente Dois Caminhos Se Me Abrem: Ou Sinto Aquela Ânsia Em Responder A Pessoa, Como Se Tudo Que Está Escrito Ali Fosse Destinado A Mim Numa Conversa Infinita, Ou Dá Uma Espécie De Despersonalização, Um Tipo De Barato “eu Escrevi Isto” – Nesse Caso Autoria É Uma Rasura E Se Respondo É A Mim Mesma, Como Se Estivesse Nesse Hospital Psiquiátrico Que É A Própria Mente Cheia De Espelhos Quebrados Que Diz “sim A Poesia Bate-volta, É Sua E É Minha E É Nossa”.
o Livro De Estreia De Murilo Lense É Um Híbrido Dos Dois Tipos, Abro-o E Abro-me: “ao Ler Poesia// Às Vezes Salto/ As Estrofes Do Meio”, Mas Aqui Não Me Detenho, Continuo Indo Fundo Porque Sim “este É Um Texto Livre”, Afinal Ele Sou Eu, Texto-corpo Que Pensa, Vive, Goza, Tem Ansiedades – Tal Hora Me Pergunto “ama?” Então Não Me Detenho, Sigo Sendo Poema Viva.?
e É Aí Que Aparece Um Outro, Um Primeiro, Um Antes De Mim, Um Antes Hospital Psiquiátrico Na Cabeça: O Cotidiano Do Autor (a Quem Quero Responder, Quero Mandar Cartinhas E Receitas Tarja-preta Com Os Poemas Portugueses Que Aparecem Aqui E Ali Nesse Livro), Um Autor Escorregadio Que Se Mostra Sem Se Mostrar (a Quem Quero Dizer É Mesmo Bonito Um Livro De Poemas Que Se Mostra – Quase – Apenas Por Seus Poemas) E De Quem Não Conhecemos O Cotidiano Senão Por Dentro, Senão Escrito, Senão Pensamento Escrito, Sendo Simplesmente: Poesia. Mas, Ai, Que Ele Dobra Sua Própria Esquiva E Oferece Vagamente Uns Laivos De Interior, De Seus Avós, Sotaques, Uma Nesga De Infância. Porque Escrever, Mesmo A Coisa Mais Ficcional E Fantasiosa E Impossível, É Mostrar-se.
“é Prudente Matar Um Calado”, Oferecer Um Livro Onde Não Se Ser, Mas Estrelar-se Nas Multidões. E É Na Leitura Que Isso É Possível, Por Isso Volto A Ser Dona Desse Livro, Dessa Poesia. Junto De Legiões, Oxalá. Porque Sonhamos, “desmímicamos”.
nina Rizzi
______________________________________
li Numa Revista Científica
que Sou Falso-calmo
que Não Suporto Pessoas Lentas Nas Marquises
e Que Dentro Do Meu Beija-preguiça
há Um Coração De Bicho-flor
– Anseia Por Chegar Logo Ao Fim Do Poema.
?
a Verdade É Que Eu Preferiria Ser?
um Calmo-calmo
mas Como A Revista Científica Disse Que Não Sou
deixo-vos Aqui Algumas Vexaminosas Confissões