Pouco Mais De Cem Páginas, Mas De Altíssimo Peso Específico. O Peso Da Água, Talvez, Do Qual Marca D Água Parece Tecer O Elogio. Um Livro Que Também Parece Imitar A Forma Da Água, Ou Melhor, Sua Ausência De Forma, Se É Verdade Que Ela Desdenha A Noção De Forma . E Qual Cidade Terrena Se Assemelha Mais À Água Do Que Veneza? As Vielas, O Seu Emaranhado De Becos E Bequinhos, Tornam-se Uma Oportunidade Para Joseph Brodsky Reproduzir Sua Topografia: Dobras, Rugas E Ondulações Da Água Se Misturam Assim À Alma Desta Cidade Que Nunca Aponta Uma Direção, Mas Sempre E Apenas Oferece Vias Transversais . Água Como Imagem Do Tempo, Veneza Como Figura Da Desorientação, Recipiente De Espelhos E Reflexos Entre Os Quais, De Modo Fugaz, Aparece Também O Do Poeta. Por Dezessete Invernos, Brodsky Voltou A Esta Cidade, Respondendo Ao Chamado De Suas Ruas Feitas De Água, Por Dezessete Invernos Aqui Ele Se Perdeu E Se Enganou, Seu Libelo É Uma Sucessão De Sensações E Imagens Poderosas Que Envolvem E Cercam O Leitor Como Um Tufo De Gélidas Algas Marinhas , Voltando À Memória Como Um Sonho Recorrente, Do Qual Ele Mal Se Lembra Dos Contornos.