Escrita numa linguagem poetica, inspirada pelas imagens e sensacoes evocadas pelos filmes em que se debruca, a analise de Andrea procura dar maior complexidade ao olhar antropologico, uma vez que busca decifrar a representacao da cidade feita por cineastas paulistas dos anos 1980. Cinema e mito podem aqui ser vistos como modos semelhantes de lidar com o tempo e suprimi-lo. Nos filmes, realidade e experiencia sao recriados. Ao percorrer a Sao Paulo que estes filmes descortinam, a autora visa transformar essa cidade filmica em um mundo etnografico, onde sao inumeros os enigmas. A Sao Paulo que ela descobre nos filmes deve ser uma Sao Paulo Azul, uma cidade noturna, em que o trabalho parece nao ter vez, sao muitos os submundos, pequenas joias podem surgir de um amontoado de lama, imagens de ordem e poder parecem virar panos de fundo para becos, ruelas, espacos de contravencao. A cidade tem corpo e pelas lentes da camera e enquadrada, ha um primeiro plano, planos gerais, uma cidade que em alguns de seus fragmentos e espetacularizada, em outros estereotipada, em outros vivida com afeto na vida de cada um. No cinema estes espacos podem adquirir uma dimensao temporal e ecoar no imaginario, onde a cidade vivida se mescla a uma cidade imaginada ou sonhada.